sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe, seja linda ainda que tristeza. Que a mulher que eu amo, seja pra sempre amada, mesmo que distante. Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo, não sejam ouvidas como prece. E nem repetidas com fervor, apenas respeitadas. Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos. Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa vontade de ir embora, se transforme na calma e na paz que eu mereço. E que essa tensão, que me corrói por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo, se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso, que eu me lembro ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, mas a outra metade, eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria, pra me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que não saiba. E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia, mas a outra metade é palco. E que a minha loucura seja perdoada! Porque metade de mim é amor, mas a outra metade... ...também. (OSVALDO MONTENEGRO)

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